Luísa Pécora
Diretor dinamarquês Lars Von Trier usa estratégia de marketing de blockbusters hollywoodianos para divulgar polêmico longa sobre viciada em sexoEm 2011, após ser banido do Festival de Cannes por comentários pró-Hitler, o diretor dinamarquês Lars Von Trier decidiu não fazer mais pronunciamentos públicos ou conceder entrevistas. Dois anos depois, ele segue calado, mas parece mais onipresente do que nunca graças à calculada campanha de marketing de seu novo filme, "Ninfomaníaca".
"Ninfomaníaca" segue a tendência no mercado cinematográfico em turbinar a estreia de filmes com o lançamento de pequenos vídeos, fotos e pôsteres, ações em redes sociais, entre outras artimanhas (leia mais abaixo).
O longa sobre uma autodiagnosticada viciada em sexo estreia no dia do Natal na Dinamarca, mas ainda não tem data de lançamento nos EUA, no Brasil ou nos principais mercados cinematográficos do mundo. A estratégia de marketing, porém, começou em maio, com a divulgação dos títulos dos oito capítulos do filme e de uma foto de Von Trier com a boca coberta por uma fita - "o filme fala por si só", dizia o material de imprensa.
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De lá para cá, fotos e clipes foram divulgados periodicamente, às vezes mais de uma vez por mês. O vídeo mais recente, publicado na semana passada, foi o primeiro com cenas de nudez e sexo, sendo vetado pelo YouTube. Em outubro, uma série de 14 pôsters com o elenco simulando o momento do orgasmo tinha causado ampla repercussão na internet.
Produtores e "fontes" ligadas ao filme também costumam soltar informações à imprensa, funcionando como a voz de Von Trier. Sabe-se, por exemplo, que "Ninfomaníaca" será divivido em duas partes e terá cinco horas de duração no total e que Von Trier planeja transformar a história em uma série de televisão.
Há rumores de que o filme terá duas versões diferentes: a "softporn" estreará no Natal e a "hardcore" ficará para o Festival de Cannes de 2014 (o título de "persona non grata" valia para o evento de 2011, não para sempre, segundo a organização, que não confirmou nada oficialmente).
Corrida pela atenção do público
Campanhas de marketing como a de "Ninfomaníaca" são comuns na indústria cinematográfica, mas costumam ser adotadas por produções hollywoodianas de grande orçamento, como franquias de ação e filmes de super-herói - de "Jogos Vorazes" a "Homem de Ferro". Como o dinheiro investido nesses filmes é muito alto, os estúdios fazem o que podem para criar excitação e expectativa meses antes do lançamento.
A corrida para chamar a atenção do público cada vez mais cedo resulta na criação precoce de páginas dos filmes no Facebook e no Twitter, que muitas vezes estimulam o público a usar hashtags relacionadas (#nymphomaniac já é uma delas). O diretor Bryan Singer, por exemplo, usou as rede sociais para divulgar fotos dos bastidores das filmagens de "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido". Seus posts foram feitos em maio, mas o longa só estreia em 2014.
Mais notável ainda é o fenômeno do "trailer do trailer": o lançamento de vídeos mais curtos, conhecidos como "teasers", antes de a versão completa ser divulgada.
Esta "provocação" ao espectador atingiu novo patamar este ano com a estratégia de marketing de "Wolverine - Imortal". Em março, a cerca de quatro meses da estreia nos EUA, o filme ganhou um teaser de seis segundos no Vine, a ferramenta de vídeos do Twitter. No dia seguinte, o estúdio divulgou outro de 20 segundos e, no seguinte, o trailer de quase dois minutos e meio.
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O que chama a atenção no caso de "Ninfomaníaca" é que o filme de Von Trier, cujo orçamento não foi divulgado, não é um blockbuster. O diretor já trabalhou com atrizes de Hollywood como Nicole Kidman ("Dogville") e Kirsten Dunst ("Melancolia"), mas não faz o que poderia ser chamado de "cinema pipoca" - e só o tema do longa já deve garantir censura alta, grande obstáculo para se chegar a um público amplo.
Em que pese o conhecido gosto de Von Trier por polêmica, a campanha de marketing de "Ninfomaníaca" mostra como filmes menos comerciais buscam fórmulas para maximizar a venda de ingressos. Tais estratégias também se tornam mais comuns no Brasil, conforme o aumento e a estabilidade de produção permite que as distribuidoras preparem melhor o lançamento de cada filme.
Um caso emblemático é o da comédia romântica "Mato Sem Cachorro", que estreou em outubro, mas começou a dar corpo a sua campanha publicitária ainda durante as filmagens, no fim de 2012.
Por sugestão da distribuidora Imagem Filmes, a equipe do longa fez algo raro: entregou o primeiro trailer quando a filmagem ainda estava na metade. O objetivo era chegar às salas de cinema em janeiro e ser exibido antes da comédia "De Pernas Pro Ar 2", pegando carona em um público de 4 milhões de espectadores.
A campanha continuou nos meses seguintes, com uma cena romântica sendo divulgada no Dia dos Namorados e o constante esforço do elenco - Bruno Gagliasso, Leandra Leal e Danilo Gentili - em divulgar o filme para seus seguidores nas redes sociais.
Para o diretor de "Mato Sem Cachorro", Pedro Amorim, o esforço de divulgação faz parte do "showbusiness". "Não adianta só você achar que o filme vai funcionar por ele mesmo", afirmou, em entrevista ao iG. "Tem que divulgar, tem que fazer com que as pessoas tenham identificação com aquele filme. Tem que criar uma marca."
Veja o vídeo mais recente de "Ninfomaníaca":