Mariane Morisawa
"Ai Weiwei: Sem Perdão" mostra que coragem e oposição do retratado são maiores do que sua obra, a mais importante no cenário contemporâneo no paísMaior nome da arte contemporânea chinesa, Ai Weiwei é também o mais conhecido crítico do governo chinês – no ano passado, ele foi preso sob a acusação de sonegação de impostos e agora está sendo investigado por “pornografia” e impossibilitado de viajar para fora do país depois de ter seu passaporte apreendido. Sua resistência corajosa, que se reflete diretamente em sua arte, está retratada no documentário "Ai Weiwei: Sem Perdão" ("Ai Weiwei: Never Sorry"), de Alison Klayman, exibido no Festival do Rio.
A diretora ouve artistas, galeristas e jornalistas sobre Weiwei. Há bons depoimentos, mas o principal é como ela acompanha sua rotina e sua intimidade. Klayman filma Weiwei em ação – hoje, ele quase não faz com as próprias mãos suas obras, mas as ideias são todas dele. Também filma visitas da mãe e ao filho que ele teve fora do casamento.
O mais impressionante é seu enfrentamento, de peito aberto, da repressão chinesa. Um de seus trabalhos mais grandiosos é uma lista de estudantes mortos no grande terremoto de 2008 na província de Sichuan. Ele reuniu voluntários para ir, de vila em vila, levantando os nomes e idades e exigindo uma investigação para saber se eles foram vítimas de construções malfeitas, depois que o governo chinês declarou que o número de mortos era segredo.
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Quando leva um golpe de arma na cabeça, no meio da madrugada, na cidade de Chengdu, no momento em que se preparava para testemunhar a favor de Tan Zuoren, outro investigador das vítimas dos terremotos, tira fotos dos policiais. Quando encontra outro agente, vai confrontá-lo e chega a tirar seus óculos escuros. Fotografa tudo e tem um câmera sempre a seu lado. Como diz um dos entrevistados, é uma espécie de "hooligan", que sabe responder à brutalidade evidente dos policiais e do governo.
Sua obra artística é poderosa – como as 100 milhões de sementes de cerâmica pintadas a mão e expostas na Tate Gallery, em Londres –, mas, talvez, a maior contribuição de Ai Weiwei seja mesmo sua atuação política e luta por uma China mais democrática e justa.
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