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Premiado em Cannes, "Reality - A Grande Ilusão" investiga sonho da fama

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Reuters

Longa de Matteo Garrone mostra homem que é obcecado em participar de programa de TV

Reuters

"Reality - A Grande Ilusão", o novo trabalho do cineasta italiano Matteo Garrone, acerta em cheio na escolha do tema, ao criar uma ficção em torno do sonho de celebridade desencadeado pelos reality shows - uma verdadeira febre mundial, dominando a programação das TVs de todo o mundo e constituindo um dos fenômenos mais perturbadores de nosso tempo.

Na Itália, o programa é chamado de "Grande Fratello" (Grande Irmão), fazendo uma sinistra referência ao escritor britânico George Orwell e seu clássico futurista, "1984".

O filme reafirma o talento de Matteo Garrone, que venceu com este trabalho seu segundo Grande Prêmio do Júri em Cannes 2012. Seu primeiro troféu foi em 2008, por "Gomorra".

O roteiro parte de uma ideia original de Garrone e Massimo Gaudioso, desenvolvendo o drama de Luciano (Aniello Arena), peixeiro napolitano, casado, pai de três filhos que enlouquece pouco a pouco pela obsessão de ser escolhido para integrar o programa. Ele fez um teste e vive na esperança de ser chamado. Enquanto isso, desarticula toda a sua rotina, sua vida familiar, seu trabalho, hipnotizado pela esperança vã.

Há muitos acertos na história, o maior deles a escolha do protagonista. Arena, um presidiário que começou sua carreira num grupo teatral na prisão de Volterra, na Toscana, onde ainda cumpre pena por duplo homicídio. Na tela, Arena é vigoroso, carismático, comovente.

A história começa com uma festa de casamento, a que comparecem Luciano e sua família, o que antecipa um dos temas ao longo da narrativa - o espetáculo, a encenação, o exagero, a cafonice. Tudo isso está presente na decoração ostensiva do hotel onde se desenvolve a festa e nos rituais em torno dela - com direito à chegada dos noivos numa carruagem com cavalos.

Um dos convidados é, justamente, um ex-integrante bem-sucedido do reality show, Enzo (Raffaelle Ferrante), que chega à cerimônia de helicóptero. É o primeiro contato direto de Luciano com esse mundo da celebridade, ao qual ele nem presta tanta atenção. Na verdade, acaba inscrevendo-se para concorrer a uma vaga no "Grande Fratello" por insistência de parentes e amigos.

No retrato desta família suburbana, remediada e eventualmente grotesca reside outro ponto forte da história, numa nítida e assumida homenagem à tradição da comédia italiana, de Vittorio De Sica a Steno, Mario Monicelli, Ettore Scola e Federico Fellini, em cujas obras nunca faltou um comentário social, como aqui.

A grande força do filme está em sintonizar esse fascínio por ocupar um lugar numa espécie de mundo paralelo, o da TV, encarando a fama como um passaporte para o sucesso, como uma fórmula mágica para resolver todos os problemas, rompendo a invisibilidade e a irrelevância sociais sentidas por pessoas comuns, como Luciano e as pessoas à sua volta.

O acerto deste enfoque e o carisma do protagonista, no entanto, não bastam para segurar por todo o tempo o ritmo do filme, que perde força no meio do caminho, por deficiência de roteiro, especialmente.

O final, no entanto, tem um poderoso impacto visual e recupera a energia do início, criando uma sequência capaz de ficar na memória dos espectadores.


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