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"Preenchendo o Vazio" penetra em comunidade de judeus ultraortodoxos

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Reuters

Filme de Rama Burshtein venceu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo do ano passado

Reuters

Nascida em Nova York e formada em cinema em Jerusalém, onde se tornou ultraortodoxa, a cineasta judia Rama Burshtein é certamente uma insider da comunidade hassídica.

Por isso, seu filme "Preenchendo o Vazio", evidencia o mérito imediato da legitimidade de um olhar de dentro na construção da riqueza de detalhes, que impressiona e ajuda a colocar o espectador na história de Shira (Hadas Yaron), vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza 2012.

O filme foi igualmente o grande vencedor da Mostra de São Paulo do mesmo ano, arrebatando o troféu de melhor ficção.

Garota de 18 anos, Shira está começando a cogitar seu casamento -aliás, a única função das mulheres dentro desta visão ultrarreligiosa do mundo, como fica muito claro. Um casamento, que se não é imposto propriamente, já que os noivos devem concordar, é arranjado mediante contatos entre as famílias num círculo muito restrito -do qual estão excluídos não só os judeus seculares como os membros de quaisquer outras religiões.

A morte de sua irmã, Esther (Renana Raz), no parto do primeiro filho confronta Shira com uma outra questão. Para evitar que o genro, Yochay (Yiftach Klein), parta com seu único neto para a Bélgica, onde encontrou uma nova mulher, sua sogra Rivka (Irit Sheleg) pressiona a filha Shira a casar-se com ele.

É verdade que há negociações. O pai de Shira não deseja este casamento, a jovem resiste ao arranjo que contraria seus sentimentos e tabus. Mas é muito difícil identificar o que ela pensa, o que ela sente. "Preenchendo o Vazio" levanta um véu sobre este ambiente complexo, em que há muita comunhão e alegria, mas é também muito fechado em si mesmo.

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Pode-se respeitar a indiscutível delicadeza deste retrato -valorizado pela excelente fotografia de Asaf Sudry-, bem como compartilhar o elevado senso de família e comunidade. Mas o fechamento nos próprios hábitos e valores pode ser encarado também como algo sufocante.

A declarada intenção da diretora de não comentar outro tema crucial na sociedade israelense moderna, o confronto entre os judeus ultrarreligiosos e os seculares, é de se lamentar, pois enriqueceria o filme.

Mesmo no retrato das mulheres, das quais Rama compôs uma notável galeria de várias gerações, sente-se uma certa contenção. Talvez um diretor menos comprometido pudesse infiltrar a história de uma reflexão mais ampla da condição feminina e das possibilidades de expressão individual neste contexto.



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