Mariane Morisawa
“O Som ao Redor” é o único candidato incontestável ao troféu desta edição do Festival do RioA competição da Première Brasil do Festival do Rio tem apenas um candidato incontestável ao troféu Redentor de melhor filme, que será entregue na noite desta quinta-feira (11): o pernambucano “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho. O que não quer dizer que ele vai sair do cine Odeon premiado pelo júri presidido pela produtora Lucy Barreto, pelo diretor e produtor Marcos Prado, pelo diretor de fotografia Renato Falcão e pelo diretor de cinema do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) Rajendra Roy. Tem sido comum festivais de cinema nacionais preferirem longas-metragens mais “fofos”, “de público”.
'O Som ao Redor', dirigido por Kleber Mendonça Filho
Foto: Divulgação
A animação "Uma História de Amor e Fúria"
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Cena do filme 'Disparos'
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Leandra Leal, Julio Andrade e João Miguel em 'Éden'
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O longa-metragem amazonense 'A Floresta de Jonathas', de Sérgio Andrade
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Imagem do filme "Entre Vales"
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'Primeiro Dia de um Ano Qualquer', dirigido por Domingos Oliveira
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Mariana Ximenes e Otávio Müller em 'O Gorila'
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José de Abreu e João Guilherme de Ávila em 'Meu Pé de Laranja Lima'
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Vladimir Brichta em 'A Coleção Invisível'
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Milhem Cortaz e Fabiula Nascimento no filme 'Dores de Amores'
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Resta esperar que não seja assim. “O Som ao Redor” – que não é “cabeça”, é bom deixar claro – capta o cotidiano dominado pelo medo da classe média de todo um país em cenas de um bairro no Recife. A violência, aliás, está à espreita em vários dos concorrentes, da animação “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, com episódios de repressão a movimentos populares no Brasil, ao problemático “Disparos”, da estreante Juliana Reis, inspirado em fatos lamentavelmente reais no Rio de Janeiro, passando por “Éden”, de Bruno Safadi, em que a grávida vivida por Leandra Leal terá de criar sozinha o filho – ou com a ajuda de uma igreja evangélica –, depois de ver o marido assassinado.
Os dois que se aproximam mais de “O Som ao Redor” em termos de qualidade e presença de uma proposta são “A Floresta de Jonathas”, de Sérgio Andrade, com sua visão pouco folclórica da Amazônia, e “Éden”, também sério candidato a troféus de fotografia, atriz (Leandra Leal) e ator coadjuvante (João Miguel). Não ficaria mal também um prêmio especial para “Uma História de Amor e Fúria”.
Entre os outros concorrentes, a maior parte não passa do mediano. Têm chances mais claras em prêmios como fotografia (“Entre Vales”, de Philippe Barcinsky), roteiro (“Primeiro Dia de um Ano Qualquer”, de Domingos Oliveira) e atriz coadjuvante (Alessandra Negrini, por “O Gorila”). Entre os atores, Otávio Müller, por “O Gorila”, de José Eduardo Belmonte, e Wagner Moura, por “A Busca”, de Luciano Moura, mesmo que não seja seu melhor trabalho, são os favoritos, ao lado de Irandhir Santos (“O Som ao Redor”). Entre as mulheres, em mais uma edição de poucos papéis femininos representativos, Leandra Leal tem poucas competidoras à vista, apesar de a boa atuação de Maeve Jenkins em “O Som ao Redor” merecer atenção.
Acesse o especial Festival do Rio
O Festival do Rio certamente se beneficiou do cancelamento do Festival de Paulínia deste ano e, se os filmes não são melhores, também é culpa da produção nacional, que anda capenga ultimamente, com muitas produções que nem são populares nem têm grandes méritos artísticos. Por sorte, havia um grande filme, “O Som ao Redor”, como fazia muito não se via. Mas a Première Brasil poderia ser um pouco mais enxuta. Alguns trabalhos simplesmente não se justificam na competição, do simpático “Meu Pé de Laranja Lima”, de Marcos Bernstein, que tem tudo para ir bem nos cinemas, ao bem-intencionado e perdido “A Coleção Invisível”, de Bernard Attal, culminando no desastroso “Dores de Amores”, de Raphael Vieira. Eles ficariam bem melhor na mostra hors concours.